A Clínica Bella Vita
Estética Integrada
Há alguns anos o termo harmonização facial ganhou destaque nos consultórios, como também na mídia. Procedimentos que cirurgiões plásticos e dermatologistas já faziam há anos, desde a sua formação universitária, foram agrupados para constituir essa técnica. Portanto, harmonização facial nada mais é do que um conjunto de procedimentos estéticos visando a harmonia da face. Dentre esses procedimentos, destaca-se o preenchimento com ácido hialurônico.
O ácido hialurônico é o preenchedor mais usado na face. Pode ser injetado em diversas áreas, como as olheiras, as maçãs do rosto (regiões malares) e o bigode chinês (sulco nasogeniano). É um tipo de preenchedor absorvível, ou seja, não é permanente, regride com o tempo. E é o único que possui uma enzima para corrigir eventuais excessos e complicações – a hialuronidase. Por esses motivos, ganha no quesito segurança.
A maioria das pessoas começa a sentir o envelhecimento na face pelo surgimento das rugas e pelo aparecimento do bigode chinês e das olheiras. A partir dos 30 a 40 anos, a sensação é de que o rosto começa a “derreter”, a “murchar”. E como nosso rosto está sempre em destaque, ainda mais em uma era digital repleta de selfies, webmeetings e lives, existe uma demanda enorme do mercado da estética em busca do rejuvenescimento. Um mercado que nunca pára de crescer em todo o mundo, mesmo em tempos de crise. O Brasil se tornou o terceiro país com o maior mercado de estética no mundo, ficando atrás, apenas, dos Estados Unidos e do Japão.
Com isso, o número de seringas de preenchedores injetadas também cresceu, e muito! Há aproximadamente 10 anos, a correção do bigode chinês era feita através de um preenchimento bem localizado, utilizando-se poucas seringas. Com a expansão do conhecimento sobre o envelhecimento facial, observou-se a necessidade de preencher outras regiões para de fato promover o rejuvenescimento. As técnicas evoluíram e mostraram que é possível criar um efeito “lifting”, de sustentação facial, ao se injetar preenchedores em pontos estratégicos. Mais volumes foram sendo injetados na face, como nas regiões malares, no queixo (mento) e nas regiões mandibulares.
Porém, tudo tem dois lados. Ao mesmo tempo que esse aumento de seringas proporcionou uma melhora do contorno facial em muitas pessoas tratadas, está cada vez mais visível o efeito contrário – o excesso que não harmoniza, mas deforma. Nos Estados Unidos isso já é visto com frequência, sendo adotado inclusive o termo “pillow face” para descrever o inchaço que é visto nas pessoas com acúmulo de preenchimentos, que ficam com a típica cara de quem acabou de acordar. Várias celebridades já passaram por isso, como Madonna e Nicole Kidman.
Esse efeito “overfilled”, ou super preenchido, traz inclusive transtornos psicológicos para algumas pessoas, que deixam de se reconhecer e de apreciar a própria imagem. Isso aconteceu com o cantor Lucas Lucco. Ele relatou não conseguir mais tirar selfies após um procedimento de harmonização facial realizado por dentista. Ele partiu para o processo contrário, a remoção do ácido hialurônico injetado em excesso na sua face. Felizmente o ácido hialurônico permite sua degradação pela aplicação da enzima hialuronidase. Porém nem tudo é simples assim. A própria enzima exige cuidados na aplicação, tem efeitos colaterais e pode gerar quadros alérgicos graves.
Lucas Lucco antes e depois da harmonização facial
A atriz Courtney Cox (conhecida como a Mônica do seriado Friends) também sofreu com o excesso de preenchimentos faciais. Já se sentiu deformada com o acúmulo de preenchedores, e então partiu para o processo de se ver livre deles. Em diversas entrevistas, relaxa que os preenchedores fizeram com que ela não se reconhecesse também, e que nunca mais pretende colocá-los. Mas o que ressalto aqui é a importância de diferenciar o vilão da história. Não é o produto, e sim a forma como ele vem sendo utilizado. O ácido hialurônico tem uma excelente ação, empregado para finalidade estética há anos, com resultados maravilhosos e naturais. O segredo está na dose utilizada, no tipo de produto utilizado (se é adequado para a região que será preenchida) e na técnica de aplicação. Todos esses fatores dependem do profissional que fará o preenchimento.
Courtney Cox 2015 após excesso de preenchimentos e em 2017 após reversão dos preenchedores.
E por que tanto volume sendo injetado? Isso levanta um questionamento sobre os padrões de beleza que são adotados de tempos em tempos na sociedade. A mandíbula e o mento mais preenchidos se tornaram alvo de desejo dos últimos tempos, além das regiões malares mais marcadas. Com isso, os rostos vão se tornando todos parecidos após a harmonização facial, seguindo os mesmos “padrões”. Cada vez mais, pessoas jovens vão se desfigurando, e parecendo até mais velhas com o acúmulo de procedimentos exagerados.
Nicole Kidman antes e depois do excesso de preenchedores
Madonna também com rosto preenchido excessivamente
Como dermatologista, considero que o trabalho dos profissionais da estética está em realçar o que é belo na pessoa, e ajudar a atenuar o que não agrada. Para isso, não precisamos impor grandes volumes de preenchedor em quem tem um rosto fino e é bonito assim. A maçã do rosto, por exemplo, não tem que ser projetada demais em quem já tem o rosto largo, simplesmente para obter uma bochecha mais marcada, o chamado “top model look”. O resultado pode ser desastroso, e ao invés de uma top model, o que se vê é a Malévola! Será que isso é harmonizar?
Malévola e sua região malar marcada exageradamente, semelhante a alguns preenchimentos faciais em excesso
Para os adeptos da beleza mais natural como eu, menos é mais! O respeito à beleza de cada um, às suas particularidades e necessidades, deve estar sempre em mente. O próprio Lucas Lucco disse que buscou um procedimento estético com o intuito de melhorar suas olheiras, e saiu da clínica com a face totalmente preenchida, seguindo os padrões de beleza ditos ideais para ele. Convenhamos, o ideal para cada um de nós é se sentir bem consigo mesmo, se olhar no espelho e gostar do que se vê! E para isso, não tem fórmula mágica, porque lidar com beleza não é como matemática. O cálculo envolve a soma não só do número de seringas, como também de um bom e experiente especialista para cuidar da sua pele, e uma boa dose de bom senso de ambas as partes (do paciente e do profissional)!